Honestidade

Tuesday 18 July 2023 (1y ago) | quer se inscrever pra receber meus posts?

Um tempos atrás eu escrevi sobre o porquê eu acho que "tudo bem?" é uma pergunta retórica. Aquele texto claramente tem um viés bem depressivo, contudo carrega sua parcela de verdade. Desde então, eu tenho tentado lidar com isso e mudar alguns comportamentos que poderiam ajudar com a sociabilidade.

Contudo, algo que não deixei de notar foi como a honestidade, ou, a certo nível, a falta de um "filtro" com várias camadas de convenções sociais poderia ser tão confortável.

São poucas as pessoas que sinto que posso ser completamente honesto e sem nenhum filtro. Meus amigos mais próximos que, ironicamente, nunca vi pessoalmente; minha ex-namorada, que ainda considero como minha melhor amiga, apesar de estarmos separados para curar o luto do relacionamento; minha psicóloga, pessoa a qual tem me ajudado muito com a minha constante decepção comigo mesmo, de forma a aceitar/entender o que talvez não corresponda com a realidade e procurar melhorar o que me incomoda.

Tenho tentado dosar isso morando na França. (Sim! Estou morando na França para um estágio. Faz tempo que não escrevo aqui, então é de se esperar que muita coisa tenha mudado). Eu sinto que sempre acabo ultrapassando uma limite que eu estabeleço: "Ok, a partir desse ponto, se eu falar mais, eu vou parecer um estranho e serei desagradável". Quando ultrapasso esse limite, fico ainda mais nervoso e preocupado, gerando comportamentos mais desagradáveis (tanto para mim, quanto para os outros).

Encontrei algum conforto em algumas pessoas. Um russo bem engraçado que trabalha comigo (impressionante como ele sempre fala algo engraçado até quando está emburrado); Duas meninas super gentis que trabalham nas Operações; e o meu amigo Sylvain, que eu descobri que leu meu blog antes de nos conhecermos, o que foi até engraçado.

O problema é que, nessas pessoas, sempre tenho medo de ser demais. Bem, espero que você não esteja lendo isso Sylvain, mas acabamos de conversar e... eu sinto que eu fui tão chato. Queria falar tanta coisa com você, mas não queria que o meu estado de espírito te contaminasse. Sendo assim, eu simplesmente me fechei só reagindo ao que você me contou e a conversa morreu com facilidade. Mas, enfim, você é um bom amigo, obrigado por me ouvir. Só tava tentando não parecer estranho.

Onde eu quero chegar com esse post? Nem sei. Até porque, ter um diálogo aberto com esse amigo que eu nem sei se vai ler já é estranho. Talvez seja esse o meu objetivo: dizer para você que está lendo que eu só queria que todos pudessem se expressar sem pisar em ovos, permitir a nós mesmos que sejamos estranhos e esquisitos, espontâneos.

Sempre me sinto preso, querendo falar mais, mas me contendo sempre. Inclusive, enquanto escrevo isso, há milhares de coisas que eu quero dizer a várias pessoas, mas eu me prendo porque não quero estragar nada. A verdade é que eu sinto que a passividade vai permitir que eu não estrague as coisas... até que a própria passividade faça o favor de estragar tudo. Sem uma ação direta, assertiva, concreta da minha parte, eu me eximo da culpa. Eu deixo "a vida me levar" e a vida me leva para caminhos que eu não quero, mas, como eu não decidi, eu sofro as consequências sem sentir a culpa.

O problema é que eu sinto a culpa, mas com um certo atraso. Eu tô sempre postergando os sentimentos ruins.

Eu adorei cada momento que eu pude ser eu mesmo perto dessas pessoas aqui (e das pessoas que estão longe de mim, que eu mencionei no começo). É tão bom sentir que alguém te entende por completo e tá disposto a te ouvir, e você pode falar qualquer merda. Hoje, depois de um momento chato de pânico, liguei para minha amiga e pude ser eu mesmo, me sentir mais leve.

Queria dizer que aquela pessoa se veste muito bem e que eu queria muito que ela me ajudasse com dicas!; queria muito quebrar esse medo da minha auto-imagem e ter alguém que possa me dizer se eu tô cheiroso ou se eu estou fedendo (sim, isso aconteceu hoje no trem para casa, duas amigas estavam se cheirando para ver se estavam cheirosas); queria dizer para outra pessoa que eu a acho muito atraente, tanto pela beleza e pela personalidade, e que gostaria de chamá-la para um date!; queria também ser mais assertivo sobre as coisas que não me agradam e ter a coragem e maturidade de sentar e discutir como uma relação interpessoal pode melhorar.

Queria que qualquer relação com outro ser humano pudesse ser totalmente transparente. Sem jogos, sem cerimônias, sem vergonha, sem medo de julgamento. Com muito amor e compreensão. Queria que eu me permitisse também, já que, na maioria das vezes, o nosso maior impeditivo é o nosso próprio código de conduta.

O meu pedido é que a honestidade caia sobre mim, acompanhada da coragem, com um bom punhado de bom senso para fazer as coisas de maneira mais agradável para mim e para os outros.

Enfim, um beijo e um queijo, amanhã acordo cedo para trabalhar.