Bom, começo esse primeiro parágrafo falando que eu estou voltando para casa. Nos últimos 3 meses estive fora do país onde vivia com meus pais para tentar um novo caminho profissional. Foi um pouco duro: primeira vez morando sozinho, dividindo casa com 10 pessoas, problemas de convívio nessa república, problemas de saúde e alimentação, estresse por querer dar o máximo de mim no novo trabalho, etc... No fim, decidi que era melhor para o meu futuro voltar para casa e ficar mais perto dos meus pais.
Dado essa pequena introdução, andei refletindo bastante nos últimos 3 meses enquanto estive aqui. O tempo solitário ajuda bastante a colocr a mente em ordem e refazer todos os meus passos. Uma das coisas mais importantes desse período é como eu percebi que existem várias versões do Caio em todo lugar. Eu tenho andado sem autoestima por bastante tempo. Vivo com depressão há 3 anos e não tem sido fácil. Então hoje me enxergo de um jeito super negativo e permaneço me martirizando pelos meus erros.
Contudo, ao contar essa versão de mim para alguns amigos, eles não me reconheceram. O Caio que não presta e não sente que tem valor não existe na cabeça deles. Em sua memória, eu sou outra pessoa.
Isso é engraçado. Para as pessoas que me vêem andando na rua, sou um jovem sério e com pressa; para aqueles que me conheceram uns bons anos atrás, eu era atlético e inteligente, mas também arrogante; hoje, sou mais dócil, mas não aparento ser inteligente (e muito menos atlético, bem acima do peso); aqueles com quem tive mais contato viram a minha ternura e minha grande empatia, a vontade que eu tenho em ajudar os outros, mesmo que isso me prejudique; mas nos dias que eu estou mal, posso ter muito bem magoado alguém ou ter sido agressivo.
Durante a depressão, tive altos e baixos. Quando as coisas ficaram estáveis, comecei um trabalho incrível, tinha uma ótima performance profissional, e comecei a namorar com uma pessoa maravilhosa que me apoiou muito, e eu dedicava bastante tempo para nós dois; Contudo a depressão voltou com mais força depois de uns meses, e eu já não era o mesmo programador que eu fui, entregando bem menos e com menor qualidade, além de que também não era o namorado que uma vez fui: não conseguia mostrar meu grande amor por aquela pessoa pois não conseguia amar a mim mesmo, não conseguia dedicar tempo para a aquela relação incrível pois passava todo tempo tentando achar formas de melhorar no trabalho, na relação com os amigos, enquanto deixava o nosso namoro ir por água a baixo, onde acabei por magoar intensamente a pessoa que eu mais amo.
Tudo isso pra dizer que me intriga as diferentes versões que eu tenho na mente de cada pessoa que me conheceu. Fui o melhor aluno, fui o pior aluno; fui uma pessoa dócil, fui arrogante; fui o programador mais novo de uma das maiores startups da Europa, fui também o programador que dava 1 commit por semana e entrou em "performance improvement plan" (a.k.a, vamos te demitir porque você não tá igual era antes); fui um namorado atencioso, fui egoísta e deixei o mundo girar em torno de mim; fui feliz, alegre, contente - fazendo jus ao significado do meu nome -, mas fui amargo, melancólico, irritante.
Ainda tenho dificuldade de entender que eu posso ser o vilão de umas histórias, o coadjuvante de algumas, e o herói de outras. É difícil aceitar que cometemos erros e acertos o tempo todo. Contudo, o sofrimento de entender todos esses fenômenos ajuda a me edificar e fazer com que eu me torne uma pessoa melhor, sabendo que ninguém é bom 100% do tempo.
Entramos agora em mais um capítulo da minha história.