Quantas vezes já mandamos mensagem ou ligamos pra alguém (alguém ainda faz ligações?) perguntando se a pessoa está bem. "Oi!! Tudo bem?", "Opa, cê tá bão?", "E aí, como vai?". Por que essa convenção social é tão chata de encarar? A resposta - na grande maioria das vezes - é um simples "Tudo e você?", seguida de "Também!". Mas tá realmente tudo bem?
Recentemente, coloquei em experiências minhas próprias relações com as pessoas. Dando um contexto: não, eu não estou bem. Mas sempre que eu não estava bem, escondia, pra poder manter a conversa e chegar no ponto que a pessoa queria. Num belo dia, resolvi mudar isso: transparecer o que eu realmente estava sentindo, mas dando uma opção para quem me perguntava essa famosa pergunta retórica.
"Olha, você quer que eu fale a verdade ou siga a convenção social?". Ledo engano meu, afinal, essa pergunta que eu fiz também é retórica. Explicarei num parágrafo futuro o porquê.
Então, em todas as vezes, a pessoa disse que queria a verdade. Então eu respondia: "Tô bem não, na real, eu estou péssimo. Tenho tido as piores semanas da minha vida. E você?"
Disso seguia-se um extenso questionário do motivo de eu não estar bem. Seguido da pergunta clássica de "você tá fazendo terapia?", seguido de "mas vai dar tudo certo!".
Enfim, mais e mais convenções. E tudo segue um padrão, até porque, geralmente as pessoas que perguntam isso estão longe de mim, sem falar comigo há meses ou até anos.
E elas somem depois que eu conto a verdade. E eu sei o porquê: tá todo mundo ocupado, tá todo mundo cheio de problemas, ninguém dá uma foda para se você está bem ou não. A pergunta é retórica porque não se quer obter uma resposta, apenas seguir a convenção; mas ao mesmo tempo, não é puramente retórica, já que não estimula porra nenhuma de reflexão.
Então, o que é de fato retórico, mas que eu gostaria que não fosse, é a pergunta que eu faço antes de iniciar essas conversas. Quando eu dou a opção do interlocutor ter uma resposta sincera ou uma resposta que segue as convenções sociais, eu nem quero que ele me responda, porque, afinal, ele não vai me responder com sinceridade; eu quero que ele reflita. Vale a pena perguntar se alguém está bem?
Talvez eu estivesse melhor se as conversas no geral não fossem puras renovações de voto de amizade, ou um evento como o Natal, onde só celebramos uma vez por ano. Eu admiro a preocupação que muitos tem por mim, mas talvez a gente pudesse conversar sobre coisas aleatórias, sem que eu precise desabafar todas as vezes (1 ou 2 vezes por ano) que você me chama.
Só como disclaimer, isso não é nenhuma indireta ou algo pessoal; Muito pelo contrário, é generalizado, 95% das minhas relações interpessoais se resumem a isso. E eu tô farto disso, tô esgotado. E, pra acrescentar, eu não culpo essas pessoas. Longe disso também. Como eu disse, tá todo mundo cheio de problemas, tendo que trabalhar pra caralho, tentando resolver seus próprios traumas e ainda mantendo o sorriso no rosto.
E, com esse experimento, eu só conclui com um péssimo (e inexistente) método científico de que falar a verdade nessas situações é desagradável, e só piorou a minha relação com essas pessoas. Então dá próxima vez que você me perguntar se eu estou bem, muito provavelmente eu vou dizer: "Tudo e você?".
Mas eu queria que não fosse assim.